segunda-feira, 7 de março de 2011

O bloco da gente triste

Rafael Baltresca – 20/11/2010

Ele nunca foi fã de Carnaval. Chamava a data de feriado inútil. Tinha todos os motivos e convencia qualquer um que Carnaval era uma besteira nacional, um atraso à pátria verde-amarela. Quando não tinha trabalho, ao invés de pular, jogar serpentina ou meter-se no vício do oba-oba, preferia ficar dormindo ou visitar o shopping com a recém-namorada. Passou sua vida toda analisando os carnavais brasileiros; de longe, pela tevê, mas analisando.

Notou tanta gente feliz, tantos rostos bonitos, cheios de vida. Não havia sofrimento, dor, falta de dinheiro, melancolia e sentimentos ruins nos quatro dias de festa. Concluiu: ou Carnaval é a salvação, a cura da humanidade, a fórmula da felicidade ou essas pessoas vivem uma mentira descomunal, uma vida plástica e sem sentido durante essa festa sem sentido.

No Carnaval do ano retrasado, decidiu conferir de perto o que de fato acontecia dentro do oba-oba-le-lê, como definia. Colocou seu abadá comprado de última hora, sua camiseta florida, óculos gigantes de plástico, enfiou dois quilos de confete nos bolsos e foi. Entrou na folia, pulou, dançou, pulou mais um pouco e notou que as pessoas faziam de tudo para se mostrarem para os outros que faziam de tudo para se mostrarem também.

Sentiu um aroma de falsidade no ar. Como se aquela alegria toda não passasse de fingimento, uma alucinação momentânea. Não via verdade nos sorrisos, não sentia autenticidade nos abraços e aquelas melodias "te quero", "te amo", desapareciam na velocidade dos tamborins. Voltou com mais certeza do que sempre defendeu. O oba-oba carnavalesco era outra forma de fugir da realidade. Agora ele podia falar com propriedade de um estudioso e com a verdade de um pesquisador.

Durante os meses seguintes, ao invés de continuar reclamando, ele decidiu agir. Comprou espaço na mídia, alugou um galpão, criou e começou a divulgar o "bloco da gente triste". Sua ideia era permitir que pessoas tristes fossem ao Carnaval para ser o que eram. Sem máscaras, sem mentiras, sem sorrisos falsos, sem nada. Para que não precisassem pular, o bloco da gente triste foi construído numa pequena sala isolada acusticamente, ao lado da grande festa. A sala tinha um carpete bege, paredes brancas, um bebedouro no canto esquerdo, duas mesinhas com café, bolachas água e sal, chá mate e água à vontade.

O conforto era garantido por duzentas cadeiras com encosto fofo, alinhadas, com um corredor no meio. O objetivo do idealizador era juntar pessoas tristes, com dores, melancólicas e colocá-las num lugar onde não haveria necessidade de atuar com comportamentos estranhos. Era só chegar, sentar, compartilhar sua tristeza ou, se desejar, apenas sentar e tomar uma xícara de café.

E foi assim que aconteceu. Enquanto pessoas seminuas desfilavam, pulavam e enroscavam-se com outras do mesmo nível, os integrantes do bloco da gente triste, devidamente identificados com crachás, entravam em fila indiana e iam sentando-se.

E assim passaram-se horas. Às 6 da manhã, no primeiro bloco, o da alegria, os componentes arrastavam-se no chão. Bêbados, vomitados, suados, cheirando mal e chorosos. Lembrando de suas fraquezas, tristezas e com todas as reações que uma noitada dessas podia acarretar. O bloco da gente feliz estava na lama, com dores de cabeça e arrependidos.

Já o bloco da gente triste, não. Ficaram horas e horas na melancolia e sem estímulos até que um começou a contar seus problemas para o outro, que narrou suas tristezas para a outra e, quando notaram, já haviam desalinhado as cadeiras e formado um grande círculo, onde cada um contava um acontecimento ruim de sua vida enquanto era ouvido atentamente pelo grupo. Começaram a notar semelhanças e viram que não eram os únicos que sofriam. Notaram que todos tinham problemas e que isso não era anormal.

Depois de um relato, à primeira vista, triste, um senhor lá da ponta riu. Riu porque o mesmo havia ocorrido com ele há dois dias. Todos riram juntos depois. E começaram a brincar com os problemas dos outros, das histórias surreais.

A moça do meio serviu mais café para a turma e, enquanto voltava com a bandeja cheia, fez alguns passinhos a la Michael Jackson. A turma toda caiu na gargalhada e começaram a levantar-se. Não demorou muito para mudarem o assunto para piadas reais cotidianas. Contaram fatos de suas vidas que mais pareciam anedotas - daquelas que nossos avós adoravam contar. Que delícia estava o bloco da gente triste.

Quase às 2 da manhã, alguém abriu a porta para entrar mais ar. O ar entrou junto com o som do bloco da gente feliz. Quando foi fechar, ouviu um "deixa abertooo" e deixou. A turma afastou as cadeiras e começaram a curtir o oba-oba. Dançaram Chiclete com Banana, Asa de Águia, Daniela Mercury, Ivete Sangalo. Até a campanha eleitoral do Tiririca virou samba. O moço da lateral saiu e, depois de alguns minutos, voltou com dois engradados de cerveja, vodka e umas latinhas de Coca-cola. O grito foi ouvido de longe: uhaaaaa! O bloco da gente triste estava indo de vento em popa.

E assim foi o Carnaval no bloco da tristeza. Conversaram, dançaram e curtiram até não poder mais. Uma hora antes de acabar, com caipirinhas na mão e jogando confete para o alto, dançavam e cantavam "te quero", "te amo".

Quando acabou, estavam todos no chão. Bêbados, vomitados, suados, cheirando mal e chorosos. Lembrando de suas fraquezas, tristezas e com todas as reações que uma noitada dessas podia acarretar.

terça-feira, 1 de março de 2011

O careca e eu

Estava zapeando a minha tevê na semana passada quando vejo um dermatologista falando sobre calvície. Na realidade, nunca me preocupei com isto. Além de eu ter uma juba que, se eu descuidar, faz inveja para o rei da floresta, não me lembrava se alguém da família havia perdido os cabelos antes da hora. O fato é que o especialista explicava bem os fenômenos. Tinha uma didática boa, leve. Decidi ficar no canal.

A propaganda, realmente, é a alma do negócio. Depois de cinco minutos, já estava preocupado com o futuro de meus fios cabeçais. Imaginei-me careca de um lado, de outro, com umas entradas ou, talvez, completamente pelado! Lembrei-me de meu plano de saúde e passei o olho no manual do convênio. Sim, eles cobrem consultas dermatológicas. Não hesitei. Tirei o telefone do gancho e marquei um bate-papo sobre o futuro do meu cabelo.

Cheguei na hora marcada. De banho tomado e sem gel - para não atrapalhar a consulta. Subi lentamente as escadas do consultório tentando imaginar o que poderia acontecer:

- Pior não fica. No máximo um xampuzinho medicinal e já estarei tranquilo para sempre. Pensei.

Minha conversa com a Dra. foi rápida. Creio que em menos de quinze minutos já estava analisado pelas suas mãozinhas rápidas. Ela pensou, sentou-se e disse:

- Até que não está tão mal. Vou te receitar dois remedinhos. O primeiro é para, depois do banho, pingar quinze gotinhas no couro cabeludo e espalhar com os dedos. O segundo você toma antes de dormir.

Pingar quinze gotinhas? Tomar um comprimidinho? Moleza! A coisa foi mais simples do que imaginava. O problema foi a resposta de minha próxima pergunta:

- E eu faço isto durante quanto tempo? Uma semana? Duas?

- Bom, o tratamento é para sempre. Se você parar de aplicar o medicamento o problema volta - disse ela sem um pingo de vergonha na cara.

- Para sempre? - perguntei. A Sra. está me dizendo que vou ter que pingar quinze gotinhas e tomar sei lá o quê para sempre? Senão meu cabelo volta a cair?

- Não foi isso que eu disse. Te expliquei que, se você parar de aplicar, ele pode cair. Pode! - disse ela, passando a mão sobre sua juba de leão.

- Ok. Disse. Levantei-me e saí.

Desci degrau a degrau muito lentamente. Imaginava-me à noite, destilando gotinhas na cabeça antes de dormir. Pensava como seria interessante num motel, por exemplo, sair da ducha quente, enxugar-me e pingar gotículas no couro cabeludo. Sentia como seria sufocante repetir esta rotina nos próximos 21.535 dias de minha vida.

Cheguei em casa, contei a piada para minha mãe e fui obrigado a tomar uma decisão: mantenho-me cabeludo com uma obrigação diária para sempre ou desisto do tratamento e mergulho na incerteza de ficar careca?

Olhei para o espelho, imaginei uma supertesta brilhante ocupando toda a minha cabeça e pela primeira vez notei como eu ficaria simpático cem por cento calvo. Porém, pensar nisto não é trabalho para mim. Vou deixar o destino com esta preocupação diária.

Rasguei a receita e saí pela porta. Sem nenhuma preocupação, pois, como dizem as más linguas, quem se preocupa muito, o cabelo cai.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um outro amor - Mini-novela em 14 mini-capítulos - Capítulo 5

Ainda pensando no pesadelo que teve na noite anterior, Carlos se apóia na parede e começa a contar suas moedas que estavam no bolso, só para passar o tempo.

Cinco, dez, quinze minutos e nada. Nem Julia, nem ônibus. Carlos tentava pensar no trabalho, nos estudos, em alguma coisa, mas sua mente não mais podia se livrar da menina de seus últimos sonhos.

Um barulho de carro em alta velocidade passou por ele e já foi suficiente para desviar sua atenção, franzir suas sobrancelhas e ver a menina chegar. Seus cabelos negros, lisos, na altura da orelha balançavam como num filme dos que Carlos gostava de ver nos sábados de chuva. Ele abriu um sorriso, sentiu seu coração palpitar, mas não entendeu nada quando a menina não parou lhe dizer um olá. Ela apenas retribuiu o gesto, por educação, com um sorriso mais contido.

Mantiveram-se por alguns minutos afastados até o ônibus chegar. Subiram, pagaram e não se sentaram juntos como esperava Carlos. A menina continuou andando pelo ônibus e escolheu o último lugar. Bem longe dele.

_Mulheres são loucas. Não pode ser. Ontem ela estava cheio de papinho, de sorrisinhos, e agora nem um oi?, pensava Carlos transtornado com a indiferença da menina.
_Acho que louco mesmo sou eu, continuava nas viagens mentais. Louco de amor, de paixão.

Ela, por sua vez, tentava imaginar como era o abraço, o cheiro e o beijo daquele estranho que acabara de encontrar. E quando ele olhava para trás, fazia o coração dela bater mais forte.

Cenas dos próximos capítulos:
O quebra-cabeça começa a se encaixar. Como a mesma menina que pega o ônibus antes de Carlos chega atrasada e sobe no mesmo coletivo? Você acredita em fantasma? Carlos ainda não tem peças suficientes para resolver este enigma. Talvez você tenha. Aguarde a Cena 6 de Um outro amor. Uma mini-novela em 14 mini-capítulos.

Merchan: Esta novela é apoiada por Palestras Motivacionais, HipnoMasters.com.br e OMagico.com.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Em cartaz, o engenheiro

João Ator era ator profissional. Ator mesmo, de teatro, cinema, novelas. Um dia resolveu fazer um monólogo. A peça se chamaria “O engenheiro”.

Mas havia um problema: João Ator nunca tinha estudado nada sobre o tema e, para ser um perfeito engenheiro em cena, tinha que conhecer e dominar muito bem o assunto. Para isso, decidiu conversar com engenheiros.

Começou sua jornada frequentando a casa de um, comparecendo em reuniões e palestras com outros. Depois de alguns meses de “laboratório”, como ele gostava de dizer, já entendia um pouquinho da mente dos engenheiros, pessoas com um raciocínio tão lógico que dava até medo. Pessoas que faziam planos detalhados para os finais de semana, estipulavam metas com prazos e números até para seus filhos. Um povo bem estranho e diferente da classe de atores que ele conhecia tão bem.

Para se tornar melhor ainda em cena, João Ator decidiu fazer uma imersão na carreira. Inscreveu-se em um curso de introdução à engenharia. Um ano de estudo!

Depois da formatura, João Ator já falava da mesma maneira e com a mesma linguagem dos engenheiros que conhecia. Tinha na ponta da língua termos como flambagem, momento fletor, momento torsor, derivada, integral. Uffa, deu um trabalhão, mas foi divertido! Ficou tão empolgado com a experiência in loco que, para se tornar um ator perfeito e não decepcionar em seu monólogo, João Ator se matriculou em uma faculdade de engenharia.

Cinco anos mais tarde, formado e com diploma nas mãos, João Ator já falava, pensava como um engenheiro e, acredite se quiser, projetava casas e prédios. Mas ele queria mais. A idéia de ser perfeito no palco fez João Ator se inscrever em um curso mais avançado, uma pós-graduação.

Uau, ao terminar a especialização ele já projetava, avaliava e até assinava obras para outros técnicos. Seu papel estava beirando a perfeição.

O que mais faltaria para esta imersão total?, - pensou.
- Uma empresa de engenharia!

Encontrar um sócio foi rápido. Com alguns clientes já conhecidos e um pouco de trabalho no fim de semana, João Ator, após três anos de empresa, já possuía uma construtora de renome em sua cidade. Ele já falava, pensava, agia, instruía e lucrava como um engenheiro de verdade.

E, num sábado chuvoso, olhando para um teatro em frente ao seu novo empreendimento, João Ator decidiu se esquecer do monólogo, abandonar o tablado e se dedicar exclusivamente ao teatro profissional.

Às sextas-feiras, João Ator acordava e tomava seu café enquanto fazia cálculos de estrutura, como os velhos atores faziam. Colocava um terno cinza com uma camisa branca, seu figurino preferido de engenheiro, penteava seu cabelo como um profissional e ia para uma reunião com seus sócios, que também eram atores engenheiros. Bom, não eram tão perfeitos como João, mas já estavam pensando em fazer um curso de especialização para atores desse ramo, um MBA.

E você? Que papel interpreta?

terça-feira, 6 de julho de 2010

Série Fetiches – Capítulo 2

Ele tinha um fetiche assustador por elevador. Algo surreal. Sem limites.
Ao menos uma vez por semana ele elegia um elevador e começava a maquinar seu plano...

Era o elevador da rua ao lado, número 10, o elevador da vez.
Pelas manhãs que passava na frente do prédio, imaginava o que poderia ser feito dentro daquele elevador. Como ele entraria sem ser notado, como ele usaria tudo que sabia, como ele sairia sem deixar rastros.

Esperou um dia não muito movimentado para especular. Fingiu um nome, um apartamento e um andar. Entrou no elevador e começou a analisar como seria. Olhou timtim por timtim. Analisou, tocou, sentiu a resistência, deu alguns pulinhos para ver se aguentava. Quase indo embora, olhou um pouquinho mais para cima, à direita. Tomou um susto quando notou uma câmera escondida entre o forro.

Seus planos tiveram que mudar. Entrar sem ser notado já era uma tarefa árdua, porém, uma câmera lá dentro tornava tudo quase impossível.

Quase, sim. Impossível, não. Seu fetiche era maior que seu medo. Na noite de sábado, na hora marcada, do jeito pensado, ele entrou. Deu seus passos planejados e em alguns segundos já estava lá dentro. Sem ao menos relaxar pelo primeiro passo conquistado, retirou um pedaço de espelho do bolso e com mais um pedaço de fita o posicionou num lugar estratégico. A imagem da câmera era de um elevador vazio. Perfeito.

Agora ele já podia relaxar. Respirou e deu inicio ao seu fetiche. Assustador. Surreal.

Retirou de sua mochila uma escova, sabão e água. Começou pelas quinas, passou pelas paredes e não foi embora até deixar o elevador limpo e cheiroso.
Como os elevadores devem ser.

Algo dizia

- Tchau.

Ele tentava mostrar tranquilidade na despedida. Por fora, uma cara normal, um sorriso bastante igual. Por dentro, algo que revirava seu estômago e não o deixava respirar com tranquilidade.

Ela tinha cabelos longos, negros. Sua pele era clara, suave. Seu perfume, simples, era praticamente imperceptível. A não ser quando forçava seu nariz contra sua roupa buscando algo.

Deixou o local da conversa e lutou para não olhar para trás e dar um último adeus. Adeus, não. Até breve - pensou.

Entrou no carro e sentia o estômago apertar. A sensação tão falada das borboletas no estômago podia ser notada com a clareza de um especialista.

Conduziu o carro com os olhos na pista e, a mente, com seus olhos na alma, suspirando as lembranças de uma tarde qualquer, com alguém que valia a pena rever.

Chegou em casa com um sorriso no rosto de quem havia conhecido um grande amor. Andou pela sala, abriu a porta da cozinha, mexeu na cabeça da cachorra, pegou uma batata frita, que já estava fria sobre a mesa, e colocou na boca.

Sentiu algo diferente em seu estômago. Notou que as borboletas estavam indo embora. Colocou outra e mais outra e mais outra batata na boca. A última com ketchup. Sentiu nitidamente que a paixão o estava deixando.

Comeu um pouco de feijão, arroz e tomou um suco de caixinha, enquanto aquela sensação que parecia amor, paixão ou qualquer coisa assim, sumia de seu estômago.

Sozinho, em casa, ele ria. Percebia que não estava apaixonado. Estava com fome.

Mais tarde, deitou sua cabeça no travesseiro e, depois de uma hora, notou que não podia dormir.

Algo dizia que ele havia comido demais. Algo dizia que ela ainda estava lá.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Livro no forno

O livro está no forno. Meu amigo Raspa está cuidando da revisão e formatação..
Olha que legal está ficando:

2 minutos e meio

São Paulo, uma hora da manhã. É hora de dormir. Meu sono não vem, minha mente vai; vai lá longe, aonde as mentes vão quando estamos tentando dormir, apenas para dar um abraço imaginário numa outra mente que também ia.

Depois de alguns segundos, volta. Nesse vaivém de idas e voltas, passam-se 23 minutos e ainda estou acordado. São quase uma e trinta e cinco da manhã e ainda não consegui dormir. Viro de um lado, viro de outro e quando vou pensar em... Puf!. Apago instantaneamente num sono que seria profundo, profundíssimo, se, após quatro horas e meia, eu não tivesse de ouvir o despertador falar:

– Trimimimririrmim

Tomo um banho rápido, engulo alguma coisa, carrego meu carro com oito malas, duas delas maiores que eu, pego trânsito, pego minha assistente, pego tudo e chego ao aeroporto. Estaciono o carro, tiro as malas e faço uma pilha gigantesca num carrinho de mão. No guichê para o check-in:

– Senhor, o seu vôo das 10h30 sai de Guarulhos e não de Congonhas. Você

tem trinta minutos para chegar no outro aeroporto.

Raiva repentina! Queria colocar a culpa em alguém. Na minha secretária? Na minha assistente? Em quem? Bah! A culpa era minha. Engoli minha burrice, atravessei o aeroporto todo, paguei quase R$ 500,00 e remarquei minha ida a Manaus para mais tarde. Coloco tudo no carro, pago o estacionamento e fico esperando das 10h às 18h em meu escritório.

18h! Triririm!

Saio correndo, dirijo num trânsito obsceno de tão perverso que é, chego então a Guarulhos, agora sem assistente para me ajudar nas malas. Tiro tudo do carro, coloco no carrinho, derrubo três vezes meus pertences no chão, subo, desço, subo, desço e consigo despachar. Minha assistente chega, comemos uma nutritiva, light e saudável Pizza Hutt e embarcamos.

– É só entrar naquele ônibus, senhor. Ele o levará para a aeronave.

Desajeitados, subimos, eu e minha assistente, e aguardamos quase vinte minutos dentro de uma lotação que nos levaria até o avião. Chegamos. Descemos, ficamos numa fila quilométrica para subir no bendito, dentro da coisa com asas:

– Moça, minhas mãos estão ocupadas. A Sra. poderia fazer a gentileza de

pegar o bilhete aqui no meu bolso e dizer qual é meu assento?

– Claro senhor. Deixa eu ver. Hummm. Senhor, o seu vôo é para Manaus e este vai para a Bolívia.

Duzentos passageiros, em coro:

– Bolívia?

Descemos apavorados, corremos atrás do outro ônibus, subimos, brigamos com o motorista, esperamos, esperamos e chegamos ao avião que iria para Manaus – sem escala na Bolívia ou Paraguai.

– Agora sim. Estamos cansados mas, pelo menos, dormiremos no avião.

Dormir? Onde? Se ao menos pudesse sentar-me dignamente já estaria bom. O assento não declina, a aeromoça não vem, minhas pernas são maiores do que o mísero espaço que tinha para elas, as pernas do meu vizinho também, ficamos disputando espaço durante duas horas até que eu desisto, tiro meu sapato e coloco minhas pernas, esticadas, para fora no corredor. Que delícia seria ficar nessa posição nos próximos noventa e dois minutos se a aeromoça não viesse brincando com seu carrinho rápido de comida e não tivesse esmagado meus pés.

– Desculpe, senhor, mas o senhor não pode ficar com os pés onde estavam.

Após quarenta e cinco minutos de malabarismos, tentativas de pegar no sono, um bafo com cheiro de azedo do meu vizinho e aeromoças maléficas, consegui dormir. Mas as crianças de trás, espertas, perceberam e começaram a chorar batendo os pés na poltrona da frente: a minha. Levanto-me.

– Moça, eu quero descer.

– Senhor, não é possível, estamos em vôo.

– Jura? Não diga. Eu quero descer mesmo assim. Dê para mim uma dessas poltronas flutuantes, um paraquedas ou qualquer coisa, pois, eu preciso descer.

– Um minutinho, senhor. Vou falar com o comandante Barroso.

Quarenta e dois minutos depois:

– Ok, senhor. O comandante autorizou.

– Senhoras e senhores, preparem-se para a aterrissagem.

Manaus!
Aterrissamos, esperamos todos os trogloditas saírem da aeronave, descemos, fizemos o check-out, pegamos as oito malas, duas delas maiores que eu, e aguardamos na saída do aeroporto uns cinqüenta minutos até perceber que o motorista que viria nos buscar não veio.

Pegamos um táxi, chegamos no hotel, fizemos check-in, nos arrastamos até nossos respectivos quartos, tentei tirar meu segundo sapato e, às quatro da manhã, capotei novamente. Agora sim eu teria muitos e muitos minutos de sono. Para ser exato, cento e vinte minutos. E depois de todas essas duas horas de cochilo:

– Tririmriririrmrmrimrirmirmrrim

– Hã? Hã? Hã?

Tomo um banho rápido, engulo alguma coisa, chamo um táxi, carrego minhas oito malas, duas delas maiores que eu, mas que não sei por que estavam maiores e mais pesadas, agora. Chego ao local do evento, monto o circo, as pessoas entram.

– Senhoras e senhores, bom dia!

– Vocês dormiram bem? Que ótimo!

Na segunda fileira tinha um moço de calça jeans e camisa polo que insistia em fechar e abrir os olhos durante meu show. Isto porque ele tinha dormido apenas 7 horas nas últimas três noites. Coitado.

Termino o show, desmonto tudo, táxi vai, táxi vem, mala cai, mala fica, assistente reclama, tudo no hotel, puto, cansado, de saco cheio, costas moídas, cérebro cansado e vistas semi-pulsantes.

Felipe, um amigo de infância, que reencontro casualmente por lá, arrasta-me até um minizoológico, dentro de um super-hiper-hotel próximo ao nosso. O nosso era apenas super.

Já lá dentro, uma arara vira-se pra mim e diz “OiOiOi”, dois macaquinhos fazem tchau e uma tartaruga, gigante, coloca a cabecinha pra fora d'água, fecha os olhos e sorri pra mim, enquanto que o ursinho, bem do outro lado, estava doido de vontade de me dar um abraço. De 2 minutos e meio. Respiro e penso: Valeu.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Mágica e o Mágico...

Por José Palma, idealizador do Caminho do Sol - Carnaval 2010

Carnaval é carnaval.
Alegria, festa, entusiasmo, e o Brasil para.
Aliás, para muito antes, e só volta a ligar os motores quando o reinado de Momo, coberto de cinzas, apaga as luzes.

Mas tem muita gente, que aproveita o feriadão, para uma farra interior, uma curtição diferente, um bloco que celebra a alegria e a

vida, de uma forma mais serena e tranqüila. E opta por sair no “ bloco do peregrinos.”

Um samba silencioso, mas extremamente contagiante, com um balanço e um gingado que aos poucos embala a alma, torna a pele morena do sol, ou molhada de chuva, e muda o brilho do olhar.

Um samba enredo, cantado em silêncio. Um bloco de pessoas diferentes, mas absolutamente iguais.

Diferenças, que anulam a relação das idades, demonstrando que ela é um simples “preconceito aritimético”, que consegue operar milagres que transformam velhos em crianças, jovens em adultos,e assim por diante.

Mágicas do Caminho!!!

Mas, desta vez a magia do Caminho, teve também a concorrência e sinecuras do “Mágico do Caminho”que fascinou peregrinos, e deixou boquiabertos, atentos hospitaleiros, que ensandecidos babavam diante do talento do peregrino/mágico...ou, do mágico/peregrino?

Enfim, a ordem dos valores, não altera a magia dos momentos vividos. Ver ali, ao vivo e à cores, diante de seus olhos, o jovenzinho botar um peregrino pra dormir, apoiado sómente nas extremidades de duas cadeiras: cabeça e os pés. Ali, bem na frente de todo mundo.

Todos bem atentos e acordadinhos. Ou iludir a galera, fazendo uma carta sumir e aparecer em um bolso distante,de uma velha e suada camisa, sem sequer sair do lugar.

A pergunta é:

Ao final, qual espetáculo terá sido mais fascinante? A Magia do Caminho.....ou a Magia do Mágico?

Pense nisto, e venha um dia conferir!!

José Palma
Idealizador do Caminho do Sol
email: palma@caminhodosol.org

sexta-feira, 5 de março de 2010

Um outro amor - Mini-novela em 14 mini-capítulos

De acordo com a lei número 1777, artigo 234, página 213, livro 43, prateleira 25, esta novela está temporiariamente suspensa.

O conteúdo altamente impróprio dos capítulos seguintes terá que ser reformulado.

Agradecemos sua compreensão rogeriana.

Nota do autor: Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Volto logo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Um outro amor - Mini-novela em 14 mini-capítulos - Capítulo 4

Cenas do último capítulo:

_ Carlos, está louco?, dizia Julia chorando.

_ Louco de amor.

Abraçado à Julia, Carlos saltou para a morte.

...

_ Hã?, gritou.


Carlos acorda assustado agarrado aos lençóis. Olha para seu lado esquerdo, procurando um copo d’água para beber. Nada encontra.

Caminha para o banheiro, lava o rosto, mas continua com as sobrancelhas franzidas. Ainda não havia percebido que tudo o que passou foi simplesmente um pesadelo de mal gosto.

Desce os cinco degraus que ligam seu quarto à cozinha, senta-se, e pega a primeira coisa que aparece à sua frente, um pão amanhecido. Coloca-o na boca enquanto procura por um café.


_ Filho, que foi? Aconteceu alguma coisa? – pergunta preocupada a mãe de Carlos

_ Não sei. Não sei. Acho que eu tive um pesadelo. Só isso. Sonhei que pulava de um teleférico com a Julia.

_ Que Julia, meu filho?

_ Ninguém, mãe. Ninguém.


Já na casa de Julia, o papo era outro:


_ Mãe, a vida é linda, não é?

_ É sim, linda. Linda. – Riam as duas.

_ E será que posso saber porquê a vida ficou tão bonita assim da noite para o dia?

_ Ué.. nada. Só acho a vida bela. Só isso.


Julia termina seu suco de laranja, embrulha um doce em um guardanapo, beija a mãe e sai correndo para o ponto de ônibus.

Sua pressa era maior do que de costume. Ela sabia que não estava correndo apenas para pegar o ônibus. A sua vontade de chegar logo tinha nome e sobrenome e, quem sabe, não sentaria ao seu lado novamente?


O ponto estava vazio. Havia uma senhora procurando alguma coisa dentro de sua bolsa, talvez moedas ou um lenço - provavelmente um lenço, devido à sua carinha triste, gripada - um rapaz com um walkman pendurado nos ombros e uma menina de uns 3 ou 4 anos chorando no colo da mãe.

Julia olhava para um lado, para outro, procurava, procurava e nada. Passaram cinco minutos e nem cheiro de seu pseudo-amor pairava no ar.


_ Será que ele realmente mora por aqui? Será que aquele dia de chuva não foi uma mera coincidência que talvez nunca mais se repita?, pensou.


Assim que ela vira para o lado, ele chegou. Não Carlos, mas o ônibus. Ela até pensou em deixar passar e pegar o próximo, mas seu chefe não estaria muito interessado em suas aventuras amorosas. Deu de ombros e subiu no coletivo.


Assim que o ônibus cruzou a esquina, Carlos apareceu. Correndo, suado e atrasado. Apoiou seus braços em seus joelhos e viu o ônibus fugir. Não fosse os sonhos com a menina, ele teria chegado no horário, porém, se ela não tivesse aparecido em sua vida, perder seu tempo não importaria nada.


Mas agora, sim: ganhar ou perder tempo, perder ou não o ônibus, poderia significar muito na vida pacata de Carlos. E significou. Logo ele saberá que sua vida mudou no instante em que perdeu seu transporte matinal.


Quer saber por quê?


Cenas do próximo capítulo: Carlos agradece o destino por ter chegado atrasado. Um outro amor surge no meio do caminho. Algo incrível está por acontecer, mas este quebra-cabeças na mente de Carlos só será resolvido após alguns capítulos de “Um outro amor” – uma mini-novela em 14 mini-capítulos.


Merchan: Esta palestra é escrita, revisada, apoiada e mantida por Palestras Motivacionais by Rafael Baltresca.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Um outro amor - Mini-novela em 14 mini-capítulos - Capítulo 3

Carlos olha bem nos olhos de Julia. Encosta sua mão no queixo da menina e lentamente vem trazendo-a até seus lábios. A respiração dos dois fica mais lenta, enquanto seus corações batem bem mais forte do que de costume. Fecham os olhos com uma sincronia perfeita, encostam seus lábios e beijam-se apaixonadamente. Carlos tem a sensação de que os dois corpos haviam se fundido. Como se ele tivesse encontrado seu único e grande amor.

_ Nossa. É alto daqui de cima, não?
_ Muito alto. Eu quis que nosso primeiro beijo fosse especial.
_ Especial até demais, riu Julia, ainda com medo da altura do teleférico.

_ Posso propor algo mais emocionante?, perguntou Carlos.
_ Mais?
_ Ahã. Vem cá. Tira o cinto de segurança. Sente-se no meu colo.
_ Carlos, você está louco?
_ Vai, vem cá. Pra gente sentir um friozinho na barriga.
_ Ta bom, mas tem que ser rápido.

Julia tirou seu cinto de segurança enquanto via Carlos fazer o mesmo. Sentou-se sobre o colo do rapaz e repetiram o primeiro beijo, agora com um toque a mais de insanidade.

_ Ju, lembra que eu te disse que queria estar nas nuvens com você?
_ Lembro, disse Julia com receio.
_ Chegou a hora.

Carlos segurou a moça no colo e ficou de pé no carrinho do teleférico. Ouvia-se um barulho ensurdecedor vindo de baixo. Eram os alarmes do parque. Alguns seguranças já previam o suicídio.

_ Carlos, está louco?, dizia Julia chorando.
_ Louco de amor.

Abraçado à Julia, Carlos saltou.

Cenas do próximo capítulo: Teria o destino de Carlos condenado nosso jovem a um fim tão trágico? O que será que este amor doentio esconde? Terá o nosso autor assunto para os próximos 11 mini-capítulos? Aguarde o 4o capítulo de nossa mini-novela em 14 mini-capítulos.

Merchan: Esta mini-novela ainda é patrocinada por www.PalestrasMotivacionais.com.br. Acesse Palestras Motivacionais e fomente esta mini-novela que ainda vai dar o que falar.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Um outro amor - Mini-novela em 14 mini-capítulos - Capítulo 2

Julia tinha 25 anos e era sonhadora desde pequena. Passava horas e horas deitada em sua cama, ao lado da janela do quarto, enquanto esfregava um pé no outro. Nunca pintava as unhas dos pés. Dizia que a mulher deveria manter a sua beleza natural. Porém, quem a conhecia sabia que eram poucas as que podiam se privar de maquiagem como Julia o fazia.

Apenas um batom leve e um pequeno brinco acompanhavam a mulher mais linda que passou pelo destino de Carlos.

Seus cabelos negros, lisos, na altura da orelha, insistiam em mostrar seu pescoço esguio. Sua boca pequena parecia ter sido desenhada por uma leve linha rosa, como se tivesse sido medida milimetricamente por um artista. E seu sorriso simples, planejado, era a arma que transformava aquela mulher tímida em uma morena fatal.

À noite, Julia seguia o ritual: Deitada em sua cama branca, encarava o teto enquanto mexia seus dedos do pé direito sob o pé esquerdo e ia alternando-os enquanto se lembrava de cada segundo da conversa que teve com o moço do ônibus. Carlos.

Lembrava de seu sorriso, do jeito de falar, do assunto-de-ônibus, das perguntas, das respostas, de seu cheiro, dos momentos em que se notava o rapaz pensando duas vezes para falar algo, como se ele tivesse mais preocupado em fazê-la sorrir do que qualquer outra coisa. E Julia ficou assim por quase uma hora, até que o sono veio e a levou embora. Não fosse o despertador, Julia dormiria até não poder mais.

Naquele momento o que ela mais queria é que este sonho não acabasse nunca. A paixão a havia pegado de jeito. O que ela não sabia é que se seu coração batia mais forte quando pensava em Carlos, o dele quase sofria um ataque quando ousava em lembrar da menina. Mas o destino seria cruel à nossa Julia. Ela não seria a única a abalar os sentimentos de Carlos. Uma rival à altura estava prestes a aparecer na vida dele.

Cenas do próximo capítulo: Carlos sofre um dilema pelo seu grande amor: Julia. Deveria o nosso galã se declarar à moça-bonita? Deveria Carlos fazer um jogo duro para provocar ainda mais frisson no coração de Julia? Aguarde o 3o capítulo de nossa mini-novela em 14 mini-capítulos.

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Um outro amor - Mini-novela em 14 mini-capítulos - Capítulo 1

O tempo não ajudava muito na noite da primeira segunda-feira do mês. Ouvia-se barulhos de trovões, gatos chorando e pingos em alguns tetos pela redondeza.

Relampeava muito em um céu que escureceu antes da hora de costume. Ainda faltavam vinte minutos para as sete e a impressão que Carlos teve é que o mundo estava prestes a acabar. Mal sabia ele que seu próprio mundo estava apenas começando.

Com uma pasta debaixo do braço e a outra sobre sua cabeça semi-molhada, Carlos gritou, tentando encobrir o barulho da chuva:

_ Meu Deus. Que chuva é essa? Você sabe se o 704 já passou?
_ Tomara que não, riu Julia. Estou esperando este ônibus há meia hora.

Cinco minutos depois o tão sonhado 704 chega. Lotado, molhado e com cheiro de segunda-feira chuvosa.

_ Banco não tem. Você se importa em ficar de pé?
_ Só se você me aguentar durante quarenta e cinco minutos. Aí eu fico.

Ela riu e tiveram a melhor conversa do mês, no pior lugar para se ter uma conversa boa.

Cenas do próximo capítulo: Julia se apaixona por Carlos e sonha acordada. Ela nem imagina o que o destino prepara para sua vida...


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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Palestras motivacionais

É, pessoal. Ano novo, vida nova!
E uma forma fácil, eficaz e divertida de começar bem o ano é, sem dúvida, com Palestras Motivacionais.

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sábado, 2 de janeiro de 2010

Como naqueles poucos dias em que passou por mim

Ai que saudades de você que por tão pouco tempo conheci.
Que saudades é esta, então, de alguém que nem da metade eu tenho ciência?
Por que tenho tanta saudades de uma pessoa que nenhum defeito eu sei? Desses que nem posso dizer que são iguais aos meus.

Será que quem está na minha cabeça é só uma imagem de você? Uma imagem com 1/3 de quem você realmente é e 2/3 de quem eu tanto gostaria que fosse?
Ou, talvez, pior: 2/3 de quem eu nunca vou ser?

Talvez... mas que a saudades é grande, é.
Tô com vontade de dizer "volta pra mim". Vontade de ir até você e te puxar de volta.
Vontade que você esteja sempre aqui e seja sempre como você foi naqueles poucos dias em que passou por mim.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Rubens Flash

O nome dele era Rubens. Rubens Flash Nogueira.
O Rubens veio do gosto da mãe. O Nogueira veio do pai. O Flash foi invenção dele próprio.

Quando Rubens fez 6 anos, ganhou uma máquina fotográfica de sua tia-avó.

- "O que esse moleque vai fazer com esse trambolho?", enfezou o pai.
- "O problema é dele.. deixa o menino brincar. Logo ele larga isso e vai com os amiguinhos.", defendeu a mãe.

Largar? Que largar que nada. Logo nos primeiros meses, o pequeno Rubens desenvolveu uma habilidade para tirar fotos sem igual. Já regulava o zoom sozinho, mexia na intensidade do flash, velocidade de abertura, ISO etc. Era um espetáculo o que esse menino fazia com sua câmera digital.

Aos 12 anos começou a se apresentar aos outros de uma forma um tanto quanto estranha:

- "Oi, meu nome é Rubens Flash" e (click). Já tirava uma foto da pessoa.
- "É pra guardadr pra eternidade...", dizia sorrindo.

E assim seguiu sua vida. Tirou foto do cachorro, do gato, do vizinho batendo na filha, do jogo de futebol, do papai noel chegando, do papai noel tirando a barba. Foi assim também com a sua primeira namorada:

_ "Quer namorar comigo?", (click).
- "Quero.", (click) (click).

Para o Rubens não havia coisa ruim. Ele convertia qualquer momento, até os mais tristes, em uma imagem, uma lembrança. Por exemplo, em um acidente em seu trabalho, com uma máquina de prensar, Rubens perdeu o dedo mínimo de sua mão esquerda. A dor era insuportável, mas ele conseguiu tirar a câmera do bolso, esticar o braço e clicar. Clicou 3 vezes para pegar o melhor ângulo. Clicou em seu rosto, também. Fotografou seu sofrimento e não se arrependeu depois:

- "Lembra-se deste dia? Faz tanto tempo, hein? Meu dedo foi embora, mas a foto ficou."
- "Olha só o dedo caído no chão, haha.", riu com seus amigos.

E assim continuou. Tirou foto de sua noiva, de seus irmãos, do semáforo piscando, do mendigo pedindo esmolas, do seu primeiro carro, da sua primeira casa, dos seus filhos nascendo e assim foi.

- "A foto quer dizer muita coisa sobre ele.", disse seu psicanalista ao juiz. Talvez este instinto por "roubar imagens" seja a explicação para a sua cleptomania.

Com 34 anos, mesmo com muita gente depondo à favor, Rubens Flash Nogueira foi indiciado a 5 anos na prisão por furto. Ele havia desenvolvido a cleptomania há oito anos.

Enquanto sua mãe chorava e seu pai olhava para baixo, tentando esconder sua dor, Rubens não dava a mínima:

- "Pessoal, isto é passageiro", (click). "Em 5 anos eu estou de volta." (click). "E com muitas fotos para contar a história..." (click) (click)

Durante seus passos para a prisão definitiva, Rubens fotografava os policiais, o juiz, seus pais ficando para trás, seus filhos e tudo que podia clicar, (click), afinal, é um registro para a eternidade, como ele mesmo dizia.

Após 5 anos, tendo passado por tudo que você possa imaginar, após ter literalmente comido o pão que o diabo amassou, o nosso Rubens, dentro da cela, se encontrava aos prantos, chorando como uma criança e batendo com as mãos nas grades da prisão.

Aos berros ele repetia:

- "Pilhas! Pelo amor de Deus! Eu preciso de pilhaaaaas."

sábado, 21 de novembro de 2009

Significados

"Ela não significava nada para mim até o dia em que ela disse que eu não significava nada para ela."

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Coisas que acontecem de repente

Aguacera de chuva
Topada do dedão do pé
Amor de verão

Mordida de cachorro
Mancha de katchup na camisa branca
Truco do concorrente

Mágica
Telefonema de amigo no aniversário
Pop-up

SMS na madrugada
Pneu furado na estrada
Engolir água na natação

Chiado na televisão
Cãimbra na perna direita
Um reencontro, assim, tão de repente.

domingo, 15 de novembro de 2009

A volta do poeta

Querendo ou não, voltei.
Esperando ou não, voltei.
Com saudades ou não, voltei.

Voltei ou não voltei, não é mais a questão.
Agora a questão é outra: até quando?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

domingo, 4 de outubro de 2009

...

You can run but you can't hide.

Ela tem nome de mulher guerreira

Dandara

Simone

Ela tem nome de mulher guerreira
E se veste de um jeito que só ela
Ela vive entre o aqui e o alheio
As meninas não gostam muito dela
Ela tem um tribal no tornozelo
E na nuca adormece uma serpente
O que faz ela ser quase um segredo
É ser ela assim tão transparente

Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara

Ela faz mechas claras nos cabelos
E caminha na areia pelo raso
Eu procuro saber os seus roteiros
Pra fingir que a encontro por acaso
Ela fala num celular vermelho
Com amigos e com seu namorado
Ela tem perto dela o mundo inteiro
E à volta outro mundo admirado

Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara



quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Descobri...

Descobri por que algumas pessoas não saem de nosso coração. Descobri mesmo. Sem metáforas, sem histórias...

Logo eu conto aqui...

terça-feira, 24 de março de 2009

O encontro de 16 de dezembro

O vôo já estava cinco horas atrasado. Parecia que sua volta para casa não seria tão tranqüila como lhe parecia. Além das fortes turbulências, a poltrona, incômoda, não permitia que seus olhos fechassem em busca de um pouco de descanso.

Chegando em São Paulo, buscou suas malas e...

Ah, este dia 16 dezembro nunca vai acontecer.

sábado, 14 de março de 2009

Série Fetiches – Capítulo 1

Parafilia é um padrão de comportamento sexual no qual a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas em alguma outra atividade. Entre as mais conhecidas estão a pedofilia, a zoofilia, o sadomasoquismo etc.

Hoje são catalogados mais de cinqüenta tipos distintos de parafilias e é praticamente impossível – pelo menos para mim - compreender racionalmente alguns desses fetiches. P. ex. Cinofilia, um fetiche em ter relações sexuais com cães; ou então a Pogofilia que é uma parafilia proveniente da excitação sexual por barbas. Vai entender...

Nesta série “Fetiches” vamos contar alguns casos tão, mas tão raros e estranhos, que não foram sequer catalogados. Ao final irei atrever-me em batizar este tipo de parafilia.

José.

José era um homem tão comum quanto o seu nome. José.
Tinha trabalho como instrutor de auto-escola, tinha casa e morava sozinho, tinha uns rolos nada muito sérios. Isso todo mundo já sabia. O quê ninguém sabia era o fetiche que José havia cultivado ao longo de seus trinta e três anos. Um fetiche não muito normal, como devem ser os fetiches para se tornarem interessantes.

“Não, José. Você deve estar brincando comigo.” Era o que seus amigos diziam quando José se abria e contava seu histórico sexual, mas estes relatos se tornaram raros depois de José ter sido motivo de piadas em alguns churrascos familiares.

Bom, vamos ao caso em si. José tem fetiche por mulheres que não sabem fazer baliza. “Não, José. Você deve estar brincando comigo.” É exatamente isso que você leu. Não importa se a mulher é branca, negra, baixa, alta, gorda ou magra. Não saber fazer baliza, se enroscar no guidão, era condição sine qua non para José se apaixonar e ficar louco de tesão por alguma mal condutora.

Elisa era enfermeira. Tinha todas as qualidades que nossa imaginação cria quando pensamos em enfermeiras. Era loira, 1,80m, bustos fartos, nádegas idem. Era linda de rosto e um avião de corpo. Só tinha um problema: Não sabia dirigir. Elisa tinha acabado de fazer vinte e um anos e, depois de três anos, decidiu tirar carteira de motorista.

Você reconhece uma pessoa que recém tirou carteira de motorista só pela cara de preocupada que faz enquanto dirige. Ela não pisca, não ousa a mexer no rádio, não vira para falar com o passageiro e treme da cabeça aos pés, entrando em um quase surto psicótico, quando é necessário parar o carro em uma rampa com mais de cinco graus de inclinação.

Elisa estava chegando e José estava saindo. Ele se despediu de seus amigos e caminhava pela calçada. Na mesma calçada em que se encontrava uma única vaga para um carro pequeno. Elisa, com todo o cuidado do mundo, passou pela vaga, engatou a ré e fez o sinal da cruz. José viu aquela maravilha loira e apenas esperou a tentativa infeliz da baliza para que o seu fetiche tomasse conta dele.

Elisa girou o volante mais do que devia, mas, exatamente na hora em que a loira iria errar a baliza, seu celular tocou. Desesperada ela soltou a direção enquanto dava a ré no carro. Por um milagre de Deus o carro entra perfeitamente na estreita vaga. Ela, com cara de interrogação, fecha o punho e grita: Yes! Ele, com cara de exclamação, respira e continua andando. Não dá a mínima para aquela loira normal boa de baliza.

Batismo: Braçofilia. Fetiche em ter relações sexuais com mulheres que não sabem fazer baliza. Se eu fosse machista diria que este fetiche não foi catalogado pois 100% das mulheres não sabem fazer baliza. Como não sou, não vou falar nada.

sábado, 7 de março de 2009

Lia

As mulheres casadas me perseguiam. Não, não era nada muito descarado. O que acontece é que já fazia mais de 10 anos que eu vivia me enroscando com mulher casada. Ah, não me pergunte o porquê. Motivos tinham de monte.
Umas estavam a ponto de se separar, outras não agüentavam o tédio que, uma hora ou outra, o matrimônio acabava provocando. Bom, eu nunca fui casado para falar com extrema propriedade, mas é o que todas elas me contavam em nossas tardes de amor.

Chegou um dia que eu cansei dessa vida bandida. Cansei de ficar sozinho nos finais de ano e quase nunca poder passar sequer um dia dos namorados juntos. Quase, porque uma vez acabei conhecendo uma mulher casada dentro de uma floricultura, bem no dia dos namorados. Foram só umas olhadas durante dez ou quinze minutos, mas foi o início de três anos de relação. Acho que posso contar que passei o Dia dos Namorados com ela, não?

O ponto é que há três anos cansei dessa vida e simplesmente fugia das que já haviam experimentado o matrimônio. Não que não me interessava mais. Na verdade esta dieta sexual me fez querer cada vez mais repetir o flerte, mas minha força de vontade era maior. Se eu ficasse sabendo que ela tinha esposo, noivo ou namorado, eu nem chegava junto para evitar a tentação.

Foi numa segunda quente, pela manhã, que avistei a Lia. Loira, alta, corpo escultural. Para ajudar mais, era inteligente. Estava eu na minha primeira aula da faculdade de Direito quando ela entrou pela porta lateral da sala. Não conseguiria lembrar o que foi explicado na classe. Fiquei exatos cinqüenta minutos hipnotizado por ela. No intervalo da primeira aula, coincidentemente, ela estava sedenta por café, como eu.
Eu havia readquirido este hábito pouco tempo atrás. Mas agora só tomava com leite:

- “Oi, sabe onde vende café?”
- “Acho que ali na cantina. Também estou atrás de um.”
- “Desculpe-me, nem me apresentei. Meu nome é Lia.”
- “Roberto.”

Trocamos cartões e, mal havíamos tomado nosso café, o sinal tocou. Nos despedimos com um sorriso e voltamos para a sala. Minha mente já estava girando em torno daquela beleza loira, quando o segundo professor chegou:

- “Bom dia, turma. Meu nome é Adílson e vocês me verão o ano todo falando de Direito do Trabalho. Modéstia à parte, esta será a aula mais divertida que vocês terão nos seus cinco anos de direito. Vamos começar fazendo uma dinâmica?”

Dinâmica numa aula de Direito? Bom, pensei, vamos ver no que vai dar.

- “Quem tem namorado ou namorada levante a mão”, disse o professor.

Gelei. Havia me esquecido deste detalhe. Fechei um olho só e, bem lentamente, virei para a minha nova gata, morrendo de medo de vê-la com a mão para cima.
Uhhhh. Ela ainda estava lá, de bracinhos abaixados. Por alguns segundos cheguei a pensar que Deus havia ouvido minhas preces e tinha me enviado uma mulher disponível.

- “Agora”, continuou, “levante o braço quem é casado”.

Ela foi a primeira a levantar o braço. Puta que o pariu, pensei. Parece que é uma sina, destino, sei lá. É só encontrar a mulher da minha vida e ela aparece enganchada com alguém. Mas minha força de vontade continuava firme e forte e não era uma loirinha gostosa que me faria trair minhas convicções. Peguei seu cartão, que ainda estava no bolso da camisa e, sem dó, rasguei-o em quatro partes. Amassei tudo e joguei fora.

Assim eu estaria livre dela e orgulhoso de mim mesmo. Forte, decidido, e novamente senhor de minhas emoções. Estava quase provando a mim mesmo que a razão poderia vencer a emoção, quando cheguei em casa. Liguei o computador e encontrei, em primeiro lugar, lá em cima, na caixa de entrada, um e-mail dela me convidando para sair.

Com uma dor tremenda no coração cliquei no e-mail e apaguei.

Ainda bem que passaria mais cinco anos estudando com ela e não me faltaria oportunidades para curtir minhas recaídas em seus braços...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Depois do churrasco...

Hoje é dia 7 de janeiro de 2009. Exatamente depois da noite do dia 6.
Estou absolutmente decidido que felicidade näo tem nada a ver com dinheiro. Felicidade é uma coisa, dinheiro é outra.

E continuamos...

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz Ano Novo!

Tem coisa mais ridícula do que as simpatias de 31 de dezembro? Pule sete ondinhas, coma lentilha, se vista de vermelho, de branco, de amarelo... O pior é que todo mundo entra em um consenso e ai daquele que resolver burlar a regra. Se não tiver azar na vida, no mínimo vai ser amaldiçoado pela própria família.

Neste ano não foi diferente. Estava na casa de uns amigos, esperando o ano novo chegar, comendo pernil, bebendo champagne, jogando conversa fora, quando chega o último casal com um saquinho na mão:

- E aí? O que vocês trouxeram de bom?
- Romã! Pra dar sorte.

- Ahh, não. Isso é o fim. Além de pular ondinhas, ficar vestido que nem um papagaio de branco, verde e amarelo e me entuchar de lentilhas, tenho que comer esse troço?, pergunto.

- Claro que sim. Se você não comer sete caroços de romã, vai se arrepender durante os próximos 365 dias.

Todos os meus amigos concordaram, afinal, estavam com suas respectivas esposas. Como estava sozinho, pude discordar:

- Eu é que não vou comer essa coisa sem gosto. E o que isso tem a ver com sorte ou azar? E nos países que não tem Romã? As pessoas vivem azaradas para sempre?

Minha pergunta foi simplesmente esquecida depois de alguns "me passa o sal?", "tem mais champagne?", "que horas são?". Eu também não me importei muito, mas estava decidido não comer nem um carocinho da fruta da sorte.

Faltavam 10 segundos para a meia noite e meus amigos, uníssonos, cantarolavam dez, nove, oito... todos em uma grande roda, entusiasmados, esperando 2009 chegar... sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um.

- Feliz Ano Novo!

Neste momento, quando os dois ponteiros ficaram lado a lado, eles ficaram também. Cada um virou para o seu par, deu um abraço e se derreteu num beijo cinematográfico.

Todos os casais, sem exceção, em roda, se apertavam sem parar. E eu, sozinho no meio da roda, não tive dúvida: virei para o lado, agarrei, e abocanhei a Romã.

Quem sabe ela não me traga mais sorte no próximo ano novo?

Pra começar 2009 quente!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

E a quadrilha continua...

Carlos amava Dora que amava Lia que amava
Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos
que amava Dora Que amava Rita que amava Dito
que amava Rita que amava Dito que amava Rita
que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro
que amava tanto que amava a filha
que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha
que amava toda a quadrilha
que amava toda a quadrilha


domingo, 28 de dezembro de 2008

Idéias que surgem assim

05/07/2006

Os primeiros cacos natelha foram virtuais.
Cósmicos-místicos, sobre: naturais.
Gosto de sangue;

De um lado, caranguejos imorais
Sabor menta-sabor,
mortes neuronais - naturais -.

Do outro, pernas e patas, venenos e baratas,
Gosto do fim, gosto do sim;

Idéias que surgem assim.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Suzana 0:44

A menina era perdida e promíscua. E não sou eu quem diz. Ela própria se denominava assim: Suzi Pró, a promíscua da boca quente e peito caliente. Usava botas pretas brilhantes, calça justíssima (para não falar enfiada na bunda), camada tripla de batom rosa, gloss, perfume embaixo do pé, tatuagem de um pênis ereto nas costas, calcinha asa-delta, marquinha aparecendo e um decote que ia até o umbigo.
Tinha vários namorados. Alguns eram primos, e freqüentar casa de swing era como ir à feira. Lá, todo mundo a conhecia:

- Boa noite, Suzana.
- Olá, Suzi.
- Corte de cabelo novo, Su?
- Suzana.. quanto tempo! Já faz mais de três dias que não nos vemos, não é?

Esta era a vida da nossa Suzana. Namoro de dia, balada à noite, swing na madrugada, duas vodkas pra cá, três caipirinhas pra lá, whisky, champanhe, muitos amigos, dois amantes, namorados e tudo o que uma vida bandida poderia lhe proporcionar.

Mas, como já dizia o sábio, tudo passa. E um dia algo passou pelos olhos da nossa garota Rebelde. Indo tomar um café, às 6h46 da manhã, quando voltava de suas noitadas, Gerson, com um avental branco de tão humilde, chegou à moça:

- Bom dia, Senhora.

Aquilo bastou. Ela sorriu e não conseguiu proferir uma palavra. Era um sentimento tão intenso, verdadeiro e único que ela nem pensou em ter vergonha daqueles trajes malvistos.

Ela estava apaixonada por Gerson que, por um mero capricho da natureza, era um pouco diferente da moça. Gerson era católico praticante, filho de dona Zita, carola e freqüentante assídua da paróquia de Santo Agostinho. Gerson tinha o primeiro grau completo e sonhava em fazer faculdade de medicina. Sonho que já estava guardado na gaveta há mais de dez anos. Trabalhava como atendente naquela padaria há quatro anos. No horário que Suzana saía da noite, ele costumava entrar no serviço. Para o Gerson, 4h30 era hora de pular da cama. Para Suzana, era hora de pular para cama ou, com alguém na cama. Gerson não reclamava da vida. Descansava bem todos os dias. Para acordar neste horário, tinha que ir dormir às 22h, horário que Suzana tomava banho para sair.

Sete meses depois deste primeiro encontro, eles já comemoravam seis meses de namoro apaixonado. Suzana só tinha olhos para Gerson e ele só vivia pela Suzana. Foi bem no começo do namoro quando ela aceitou toda aquela caretice e ingenuidade do menino. E ele, por sua vez, aceitou toda aquela badalação e vida perversa da menina. Todos os preconceitos foram deixados de lado, as armaduras de cada um, os julgamentos que os limitavam de viver uma vida plena, foram jogados ao chão e uma vida voltada para a sociedade foi transformada numa vida voltada apenas aos seus corações.

- Nós vamos nos casar. Já preparei tudo. O local, a igreja, as madrinhas, os padrinhos, o coroinha, meu vestido, a viagem, tudo! Vai ser o dia mais feliz da minha vida.

Suzana contava todos os detalhes do casamento e lua de mel para Edson, enquanto apenas de calcinha, sutiã e com um cigarro na mão subia as escadas do motel. Edson até sentiu um pouco de ciúme na hora, mas logo ficou com vontade de conhecer Gerson, o mais novo integrante da turma. Gerson, por sua vez, dormia e sonhava com os pãezinhos doces que teria de fazer na manhã do dia seguinte. Nem imaginava que estava entrando para a turma...
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Édipo Rei - OIDIPOUS TYRANNOS

Tragédia grega escrita por Sófocles em 427 a.C.

Édipo nasceu em Tebas e era descendente de seu mítico fundador, Cadmos. Seu avô foi Labdacos (o "coxo") e seu pai foi Laios (o "canhoto").

Laios casou-se com Jocasta e teriam sido felizes como reis de Tebas se não fosse um problema: não conseguiam ter filhos. Por essa razão, muito religiosos, foram consultar o Oráculo de Delfos.

No templo, a pitonisa délfica revelou que teriam um filho dentro de pouco tempo, mas que ele estava destinado a matar o pai e casar-se com a mãe.

Eles se alegraram pelo filho. Quando ele nasceu, Laios lembrou-se do oráculo e mandou os servos matarem o bebê.

Levaram-no para uma a floresta, furaram-lhe os pés e o amarraram de ponta cabeça em uma árvore para ser devorado pelos animais selvagens.

Passaram por ali uns pastores de Corinto e o levaram. Deram-no aos reis de Corinto, que também sofriam por não ter um filho. O rei e a rainha adotaram-no como se fosse seu, e lhe deram o nome de Édipo, que quer dizer "pés furados".

Quando cresceu, Édipo começou a sentir-se diferente dos seus concidadãos e foi consultar o Oráculo de Delfos. Aí soube que estava destinado a matar o próprio pai e a casar-se com a mãe. Horrorizado, decidiu não voltar a Corinto, Pegou o carro e foi para bem longe.

Em uma estrada estreita, nas montanhas, encontrou um carro maior na direção contrária. Tentou desviar-se mas os carros acabaram chocando-se de raspão. O cocheiro do outro carro xingou Édipo que, revoltado, o matou. Então o patrão do cocheiro avançou sobre Édipo, que o matou também. E continuou a viagem.

Chegou a Tebas e encontrou a cidade consternada por dois problemas: o rei tinha morrido e um monstro, a Esfinge, estabelecera-se na porta da cidade propondo um enigma. Como ninguém sabia responder, a Esfinge ia matando um por um. Jocasta tinha oferecido sua mão a quem livrasse a cidade desse monstro.

Édipo foi enfrentar a Esfinge. Era um ser estranho, com corpo de leão, patas de boi, asas de águia e rosto humano. Seu enigma: O que é que tem quatro pés de manhã, dois ao meio dia e três à tarde?

Édipo respondeu que era o homem, porque engatinha quando criança, passa a vida andando sobre dois pés mas,velho, tem que recorrer a uma bengala. A Esfinge matou-se e Édipo, casando-se com Jocasta, tornou-se o rei de Tebas.

Tiveram quatro filhos. Os gêmeos Eteócles e Poliníces, Antígona e Ismênia. Foram felizes durante muitos anos. Mas, depois, uma peste assolou a cidade.

Édipo quis ir consultar Delfos, mas foi aconselhado a chamar Tirésias, um velhinho cego e sábio que vivia em Tebas. Este revelou que a causa era o assassino de Laios, que continuava na cidade. Édipo prometeu prendê-lo e matá-lo, mas o sábio revelou que ele mesmo era o assassino, porque Laios era o dono do carro que ele enfrentara.

Jocasta, envergonhada, suicidou-se. Édipo furou os próprios olhos e renunciou ao trono. Cego, precisou ser guiado por Antígona para ir a Delfos. Aí soube que devia ir a um bosque sagrado, em Colonos, perto de Atenas. Ajudado por Teseu, rei de Atenas, chegou lá. Encontrou um lago, onde tomou banho, e uma caverna, onde penetrou depois de mudar de roupa. Entrou na eternidade.

O mágico do mal - Especial de Natal

Por meu amigo Wagner Spolaor, el gran Rasputin!

Depois do fiasco que foi seu último aniversário - Raquelzinha ainda treme ao lembrar-se do capuz em sua cabeça e seus amigos correndo todos em direção ao microônibus do maldito mágico – a ceia de Natal seria perfeita! Cada minúsculo detlhe preparado a meses, planos A, B e C para quaisquer eventualidades que surgirem e, principalmente, nada daquela peste de mágico.
Dez da noite... Todos começam a chegar para a ceia. Primos do interior em suas roupas bregas, primas da capital com seus cabelos esquisitos e aqueles tios que a cada ano parecem mais bizarros, como se passassem o ano inteiro dentro de um vidro de conservas. Tudo bem. Vale o preço para ter o prazer de mostrar como é boa para organizar festas.
Os pais confiaram em Raquelzinha (agora Raquel... Afinal, já é uma moça!) e agora ela será um sucesso total. Depois do Especial do Roberto Carlos, todos teriam uma surpresa. Roberto canta Emoções, a mulherada chora, os adolescentes sentem ânsia de vômito e, dez minutos depois, todos vão à mesa para saborear o banquete.
Barrigas cheias. Conversas fiadas pela casa. De repente, toca a campainha. É agora! – Raquel pensa satisfeita. A mãe vai atender à porta, os ouvidos da mocinha se aguçam:
- Então, o Seu Pacheco teve um problema lá com o filho bebum dele e não pôde vir, aí a agência me mandou no lugar dele, beleza?
Ai meu Deus! Deu rolo com o Papai Noel! Pelo menos mandaram alguém no lugar dele, tomara que não seja um velho magrela com uma barba de algodão amarelo.
- Ho, ho, ho! Feliz Natal! Venham todos receber seus presentinhos! Ho! Ho! Ho!
Sucesso! A surpresa de Natal! Mas é melhor dar um tempo antes de ir à sala colher os frutos da vitória. Por essa ninguém esperava... Economizei cada centavo da minha mesada, mas vou dar presente pra todo mundo. E vou ficar com o Ibope lá em cima! Hahaha!
Raquel vai lentamente até a sala com seu melhor sorriso no rosto e... NÃO! Olhos azuis, queixo com furinho e as covinhas infernais! É ele!
- O que você está fazendo aqui?!
- Ho! Ho! Ho! Minha filha, eu vim do Pólo Norte trazer os presentinhos de Natal dessa gente bonita!
E cochichando:
- Negócio é o seguinte, o trampo de mágico não virou, a polícia me pegou no grande número do desaparecimento do relógio usando uma bolsinha que eu comprei na Internet (Balbag, tenha a sua você também!). Agora pega esse despertador de R$ 1,99 e deixa eu trabalhar decentemente!
Bom, Raquelzinha (agora ela se sentia uma pirralha de novo) pensou, todo mundo deve ter uma segunda chance. Quem sabe ele se regenera, né?
Virando para comer mais uma rabanada, ela ainda tem tempo de ver o Papai Noel com três cartas de baralho na mão e falando para o tio Valdemir:
- Então, meu senhor, quer apostar seus cinqüenta reais que a carta vermelha não está mais no meio das duas?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O que eu desejo

Um natal repleto de felicidade; Um ano novo de paz para todos;
Um natal com muita alegria; Um ano em que todos os seus sonhos possam se concretizar... e um ano com muita harmonia, paz e amor para toda a sua família.

É o que eu venho desejando há 29 anos. É, todo ano esta ladainha: paz e amor pra família toda, sucesso praquele cara que você odeia, muita saúde praquela safada que você quer ver longe da sua vida e outros tantos hipócritas blábláblás.

Hoje eu só aceito de coração quando me dizem "boas festas". Porque aí sim eu lembro de coisas boas: festas. Com bastante champanhe, muita gente conversando e se divertindo. Este, para mim, é o verdadeiro espírito de natal: parar de trabalhar um pouco e só pensar em diversão.

Hipocrisia à parte, hora de ser solidário, de amar o próximo e de viver em paz, não é no dia 24 de dezembro, à meia-noite, quando o peru está sendo devorado. A hora de harmonia deveria ser naquela hora em que você está no trânsito, leva uma puta fechada e dá vontade de matar o sujeito que nem te viu passar. Hora de paz deveria ser a hora em que você está na balada e um bêbado mexe com a sua mulher. Hora de solidariedade deveria ser em janeiro, fevereiro, março, abril...

O que eu desejo agora? Nada demais. Desejo que a Julia Roberts apareça aqui em casa, nua, no réveillon, ou que a Sandra Bullock faça uma visitinha surpresa a mim na noite de natal, com uma mini saia a lá mamãe noela. É isso o que eu realmente desejo. Porque o que eu disse aí em cima, pode ser mera ilusão. Metade depende da sorte, metade depende de ação.
E no MSN, um amigo completa meu post. Tive que inserir aqui...
"E te digo mais: sempre enchi o cu de sopa de lentilha na virada do ano. Era para estar rico hoje."

domingo, 21 de dezembro de 2008

Seus beijos calientes

Ela era apaixonada por ele há muito tempo. Ele gostava bastante dela, mas não do jeito doente dela.

No último encontro, entre beijos e amassos, sem dó, ele lascou um tapa no lado esquerdo do rosto dela. Antes que ela pudesse reclamar, ele colocou sua mão em sua nuca, puxou seu cabelo e a beijou loucamente. Ela se deliciava com uma mistura de amor e ódio da melhor qualidade.

Dez minutos depois a vontade chegou, e ele, novamente, não hesitou: lascou outro tapa na face esquerda dela.

Uma lágrima caiu, mas ele nem percebeu. Continuou beijando-a sem fôlego, sem pudor, sem se preocupar com o tempo, com nada. E continuaram assim. Para ela, hora aumentava sua paixão, hora desejava que ele nunca tivesse sequer existido.

Poucos minutos depois, suando, e desejando aquela mulher, ele levantou sua mão e já em direção ao seu rosto, ela não agüentou. Segurou a mão dele com fúria. Respirou fundo enquanto seus olhos avermelhavam. Pela primeira vez, ele teve medo daquela moça linda.

E apontando o dedo rígido para ele, ela esbravejou:

- Por favor, bate um pouco do outro lado.

Ele bateu no mesmo lado. Só para ela não ficar mal acostumada.
Sorriu e continuou com seus beijos calientes.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

João Motorista

12/12/2008 – 09h16

João era motorista de ambulância do único hospital de Calmênica do Sul – uma cidadezinha minúscula de aproximadamente três mil habitantes. O trabalho era o seu maior motivo de orgulho. O problema é que não tinha trabalho.

Calmênica era uma cidade muito calma. As pessoas, quando bebiam, bebiam com calma. Quando corriam, corriam com calma, e o pior: Quando brigavam, brigavam com calma. Na direção, eram cautelosos também. Paravam no sinal amarelo, só aceleravam depois de cinco segundos de sinal verde, respeitavam o pedestre, eram realmente muito calmos.

Toda esta calmaria, todavia, não deixava nosso João assim tão sereno. Pelo contrário, João andava estressado. Com toda esta calma, não tinham muitos corpos para socorrer em sua ambulância. Muitos, não. Nos últimos 5 meses, ele não tinha sido chamado nem uma única vez.

Foi em sua casa, calma também, que João teve sua primeira grande idéia: eu saio pelas ruas atropelando os pedestres. Jogo na caçamba e encaminho para o hospital. Meu emprego fica garantido e a calma volta para mim.

E assim começou a saga do João em prol de sua calmaria: de manhã, indo para o hospital, João avistou uma senhora atravessando a faixa. Não pensou duas vezes e PUM! Dez minutos depois a velhinha já estava sendo encaminhada ao hospital pelo próprio João. À noite, de volta para casa, um rapaz de bicicleta aparece ao lado da ambulância do João. Nosso amigo não pensou duas vezes: Paft. Deu só aquela viradinha e derrubou o bicicleteiro no chão. Só para não ter perigo do moço se lembrar de algo, João foi para frente e para trás três vezes, até o rapaz perder a consciência.

A coisa estava indo bem. O hospital estava agitado e o emprego de João não mais estava comprometido. Em um mês ele havia mandado quarenta e cinco para o hospital. Em seis meses, quinhentos e trinta. Após dois anos, mais de três mil pessoas já estavam ocupando algum lugar no hospital. Precisamente, três mil quatrocentos e trinta pessoas. Exatamente o número de habitantes de Calmênica do Sul.
Daquele dia em diante, João não tinha mais ninguém para atropelar. Crianças, velhos, moços, moças, católicos, judeus, todas as pessoas da cidade já estavam no hospital. Sabendo disso, o diretor geral do hospital, seu Manoel, não poderia ter outra postura:

- João, não existe mais ninguém na cidade. Agora, seu trabalho é dispensável. Para cortar custos, vou ter que mandar você embora.

João não teve dúvidas: atropelou o seu Manoel.